Voltaire no tablado
Otimismo é adaptado para o teatro e apresenta o olhar sarcástico e irônico da obra original
((Anderson Fernandes))
Voltaire escreveu "Candido ou o otimista", um dos seus textos mais conhecidos e respeitados, depois de passar por uma tempestade de maus acontecimentos em sua vida. A bonança que se sucedeu o inspirou a criar o universo de Cândido e Pangloss, que vivem no melhor dos mundos possíveis.
Porém, somos convidados à presenciar uma série de desgraças no destino do protagonista, que ganha vida nos palcos do Teatro X, no bairro da Bela Vista. O grupo Teatro da Curva transforma as idéias do filósofo em encenação, transportando o mesmo tom irônico visto nas páginas da obra para as falas e gestos dos personagens em cena.
Pangloss, o filósofo otimista, pouco sorri, possui um semblante feio, anda de maneira estranha, mas nunca deixa de acreditar que esse é o melhor dos mundos - mesmo depois de ser enforcado e dissecado. O romance, de apenas um beijo, entre os apaixonados Cândido e Conegundes, também passa pelas piores situações.
A apresentação corporal do elenco resgata a dor dos personagens mais penados, principalmente pelas guerras, retratadas friamente - e porque não fielmente - como permanentes e sem motivo. Martinho é o melhor exemplo. O ator consegue nos tirar boas risadas usando o sarcamos do personagem, que não espera nada do mundo, a não ser o pior dele. O semblante de tristeza é arrebatador, e se une ao caminhar lento, ombros caidos e peito fechado, típico de pessoas que passaram por grandes traumas e com pouca motivação. É o olhar realista que se contrapõe à filosofia de Pangloss, e que resgata Cândido do mundo bucólico que vive.
No final da apresentação, sentimos que algumas das falas adaptadas ao momento contemporâneo - por exemplo, em um diálogo, desenvolvido por Martinho e Cândido, quando temos a retórica pessimista de que os homens sempre serão egoístas, manipuladores, mesquinhos, governadores, senadores... - deixa a sensação de que todos somos, no fundo, otimistas, porém, mesmo desacreditando que esse seja (ou possa vir a ser) o melhor dos mundos possíveis, devemos cultivar o nosso jardim.
OTIMISMO, de Voltaire
Adaptação e Direção: Ralph Maizza
Com: Ricardo Gelli; Suzana Alves; Didio Perini; Flávia Tápias; Celso Melez; Marauê Carneiro; Mariana Blanski; Walter Figueiredo; Rui Xavier; Celso Tourinho e Ralph Maizza.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
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