sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

SÓLON

...Creso mostrou a Sólon seus tesouros, o palácio, sua familia, no fim perguntou ao sábio se não o considerava o homem mais feliz do mundo. Sólon respondeu-lhe que não, que essa não era sua opinião.
Creso - Diga-me então quem é, a seu ver, o homem mais afortunado do mundo - insistindo.

Sólon- Um ateniense chamado Télis, que teve uma vida próspera, viu com seriedade crescerem os filhos e depois os netos sem jamais perder um sequer. E por fim morreu lutando contra os eleusínios e mereceu de seus concidadãos um monumento fúnebre no local onde heroicamente morrera.

Creso ficou desconcertado pois não podia acreditar que uma pessoa qualquer pudesse ser mais afortunado do que ele que era rei da Ásia, mas conhecendo a fama da sabedoria de Sólon, pediu que lhe desse ao menos o segundo lugar. Sólon então contou outra história:

Sólon - Havia uma sacerdotisa em Argos que tinha que ir com o carro sagrado até o templo de Hera para celebrar um sacrifício, mas, como os bois estavam todos nos campos, não havia animais para puxar o pesado veículo. A cerimônia não podia ser adiada e os filhos da mulher, Cléobis e Bíton, mandaram-na subir no carro, atrelaram-se na canga e puxaram penosamente o veículo até o templo. Comovida com tamanha devoção a mãe pediu que a deusa lhes concedesse o mais lindo prêmio e Hera ouviu a sua prece. Os dois rapazes entraram no templo e ficaram deitados para recuperar as forças depois da exaustiva façanha. Nunca mais acordaram.

Creso _ Só nomeia mortos!? Por que!?

Sólon_ Porque nenhum ser humano pode se considerar feliz antes de superar o extremo limiar, antes de concluir a vida com um saldo positivo. Cada dia pode ser portador de desgraças inesperadas, de indescritíveis sofrimentos e não há tesouros nem poderes humanos que nos livrem deles. Considero setenta anos o limite da vida de um homem. Agora, de todos esses dias compreendidos nos setenta anos, que no total são vinte e seis mil duzentos e cinquenta dias, nenhum nos traz exatamente o mesmo que o outro. O homem não passa de mera vicissitude...quem é muito rico nem de longe é mais feliz do que aquele que vive o dia-a-dia, a não ser que tenha a sorte de acabar bem a vida...

Alguns anos mais tarde Creso foi derrotado numa batalha campal às margens do Hermo pelo exército persa de Ciro o grande. Já estava com os demais prisioneiros amontoados para ser queimado vivo quando, na hora de atearem o fogo, gritou: " Estavas certo, meu hóspede ateniense!" Estas palavras salvaram-lhe a vida, pois despertaram a curiosidade de Ciro, que mandou libertá-lo a fim de saber o que significavam, e desde então o manteve a seu lado como conselheiro.

*Trecho do livro: Akropolis - A grande epopéia de Atenas - Valério Massimo Manfredi

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