segunda-feira, 22 de junho de 2009


Tenho passado os últimos dias escolhendo a trilha da nossa próxima peça. É um trabalho minucioso. Não é fácil colocar uma trilha num espetáculo. Em primeiro lugar não pode ser apelativa, porque senão transforma a cena num pastelão digno de novela. Em segundo lugar não pode ser óbvia. Não gosto de usar músicas que ficaram marcadas em algum filme numa peça de teatro. É um plágio grosseiro muitas vezes. Já, já fiz sim, Já usei certas músicas que pensando bem, não utilizaria novamente...hoje aprendi. Ano passado usei uma faixa do filme “Barry Lyndon” na peça “Otimismo”, mas era intencional, eu estava replicando a cena do filme.
Existem diretores tão bons, tão precisos, mas que na hora de escolher a trilha, caem em filmes como “Réquiem para um sonho”; “Pulp Fiction”; “O bebê de Rosemary”; como se o público não fosse reconhecer as músicas. Mas cuidado, porque quem se interessa reconhece, e automaticamente relembra o filme e compara com o que está vendo, e o sentido provavelmente não vai ser o mesmo, então o tiro sai pela culatra.
Com muita dor no coração, acabei de cortar uma faixa que iria rolar no espetáculo. Um dia ainda faço uma trilha só com músicas que não entraram nos meus espetáculos. Isso é uma outra característica da boa trilha, saber se desapegar de uma música que você adoraria colocar de alguma maneira, mas que não se encaixa. Simplesmente não se encaixa. Não é o seu particular gosto musical que tem que ser inserido num espetáculo, mas algo que corresponda a imagem, que jogue com a cena. O gosto deve ficar de fora. Se for mau gosto então, aí que tem que ficar de fora mesmo.
Não estou escrevendo aqui com intenção de ensinar ninguém, não me acho o “Ás” da trilha sonora nem nada disso, só estou comentando aqui porque muitas vezes assisto boas peças de teatro que pecam por não cuidarem da trilha sonora com sensibilidade. Acontece também das pessoas assistirem nossas peças e se apegarem a trilha, e perguntarem que banda ou que músico é, e eu acho isso do caralho...demonstra o quanto elas se importam e o quanto a música mexe com as pessoas, e que por essa razão ela deve estar amarrada a proposta encenada, não pode servir apenas para enfeitar o bolo. Ela tem que ter sentido. Na novela não. Num filme do Steven Segal, provavelmente também não. Mas no teatro, com certeza.

2 comentários:

Claudião disse...

Ralph, concordo plenamente com seu ponto de vista. De todas as peças que assisti da Curva, sempre gostei muito das trilhas que vc escolheu. grande abraço, Claudião.

Ralph disse...

Valew Claudião!!!Vc e a Tate são grandes companheiros nessa estrada!! Abração!!!